POEMAS

 ÁGUA DE RIO

Água de rio. Estou bem próxima a elas, são seis ou sete mulheres, todas vestem branco e têm lenços da mesma cor protegendo a cabeça. Fico em frente à cena e de onde me encontro, enquadro essas mulheres com a metade dos seus corpos para fora d’água. Talvez estejam ajoelhadas, talvez sejam iaras.
Não sei ao certo se é dia ou noite, sinto que uma delas quer falar comigo. As demais são simples coadjuvantes e me soa como extensão da própria, única e dura presença.
No sonho, apenas me ocupo em capturar qualquer gesto dessa mulher à deriva, negra, vestida de branco e água, olhando fixamente para mim.
Deixo o sonho sem saber se a água era turva ou clara e se haveria mais rio correndo depois delas.
A figura dessa dona ultrapassou a madrugada e me acompanhou dias a fio. Ela, dividida por um rio sem nome com seus olhos vidrados em mim, a me dizer palavras de peixe.
Olho para ela também.
Enfim, abandono o sonho, sem jamais poder abandoná-la.

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Relato de um sonho

(15/04/2020)

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CARLOS (RELATO DE UM SONHO)

Carlos, ontem eu tive um sonho

sonhei que lavava o mar

o mar

lavado de sangue

de gente que há

Carlos, e agora?

o mar não secou

mas avermelhou

tem sangue no mar

E agora, Carlos?

Minha menina,

se você parasse

de nadar contra a correnteza

se você se entregasse

sem se entregar

se você apenas

se colocasse presente

em tudo que há.

Deixa o mar,

somente a poesia

apenas ela,

menina,

fará o mar

nova/mente

azular

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É TEMPO DE ILUMINAÇÃO

É tempo
de despertar.

De abrir as janelas da alma
e ser, na inteireza.

De tornar grandioso
os nossos mais
miúdos e íntimos
habitat(s). .
É tempo
de visitarmos
nossos silêncios.

De construir
aonde houver abrigo,
medianeiras...
por todos os lados
e deixar que entre a luz.

É tempo de
iluminação.

A ILUSÃO DO VOO